Foto: Agência Pará
O Çairé, segundo alguns historiadores, foi criado pelos índios como forma de homenagear os portugueses, que colonizaram o Médio e o Baixo Amazonas paraense. Os índios teriam confeccionado o símbolo do Çairé imitando os escudos usados pelos colonizadores, incluindo as cruzes que simbolizam o mistério da Santíssima Trindade.

Agência Pará
O caráter religioso teria origem, portanto, dessa reverência dos indígenas para com os portugueses. Há ainda aqueles, que atribuem a origem do Çairé aos frades jesuítas, estes que teriam criado o símbolo para ajudar na catequese dos indígenas. Essa é a hipótese mais provável, já que os índios, antes da catequização, não conheciam a religião cristã, os textos bíblicos e nem o mistério da Santíssima Trindade. Nas diferentes versões percebe-se que se tratava de uma festa em louvor ao Divino Espírito Santo.
Suas origens remontam, portanto, ao período da colonização, a partir da segunda metade do século XVII, quando os padres jesuítas, que chegavam à região em sua missão evangelizadora, envolviam a música e dança em seus trabalhos missionários de catequese dos indígenas.

Inicialmente era realizada apenas uma procissão qual era conduzido o Çairé, propriamente dito, um símbolo em forma de semicírculo feito de cipó torcido, revestido de algodão e enfeitado com fitas flores da região. Após a chegada da procissão eram realizadas a reza e o jantar em que eram servidas as delícias da culinária regional, especialmente frutas e peixe. Há indícios de que em muitas localidades as festividades do Çairé duravam até três dias consecutivos.

Agência Santarém
Com o passar dos anos o Çairé foi ganhando novas dimensões e novos rituais foram sendo introduzidos. No ano de 1997 à festa foi inserido o festival folclórico dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, este que deu um ar de competição à festa, valorizando ainda uma das mais belas e mais tradicionais lendas da Amazônia, a lenda do boto, bem como o ritmo típico da região, que é o carimbó. Tornando-se assim, uma festa com caráter religioso e profano. A segunda foi alteração da grafia termo Sairé para ―Çairé‖ como uma forma de resgatar o verdadeiro sentido da festa. Com esse intuito também foram resgatadas as antigas vestimentas e o símbolo do Çairé (que difere em alguns traços do que vinha sendo usado).

Boto Tucuxi
O Çairé tornou-se uma das principais manifestações folclóricas e culturais da região Oeste do Pará, e este sem dúvida, configura-se como um dos principais atrativos turísticos de Santarém, pois este os mistérios e encantos da cultura santarena. A Festa do Çairé que anteriormente acontecia no mês de julho, a partir de 1997 passou a acontecer no mês de setembro, sendo possível desfrutar das belas praias amazônicas em meio à floresta que surgem neste período.  Como o evento é realizado na Vila de Alter do Chão, setembro, seria o mês ideal não apenas para os turistas/ visitantes prestigiarem ao evento, mas também para estes desfrutarem das belíssimas paisagens naturais que a Vila de Alter do Chão apresenta.

Boto Cor de Rosa
A festa inicia oficialmente na manhã de uma quinta feira com a tradicional cerimônia do levantamento dos mastros que permanecerão em pé pelos cinco dias de festa. E somente a noite tem início às atrações profanas. O encerramento acontece numa segunda feira com a cerimônia de derrubada dos mastros, o que novamente é feito em meio a muita disputa entre homens e mulheres moradores e visitantes da vila.   
A festa do Çairé era realizada por diferentes aldeias em diferentes lugares da Amazônia, no entando foram perdendo força com o passar dos anos. O Çairé de Alter do chão foi gradativamente sofrendo a influência de elementos profanos em seus rituais religiosos, conservando, no entanto, o seu símbolo original, o semicirculo com vários espelhos que imita um escudo português, confeccionado de cipó traçado, revestido de algodão e enfeitado com fitas e flores coloridas. O grande semicírculo representa a carca de Noé; os espelhos, a luz do dia; o algodão simboliza a espuma e o ruído das águas batendo na arca durante os quarenta dias do dilúvio; enquanto as fitas e flores coloridas representam a fartura de alimentos existentes na arca. Dentro do semicirculo estão três cruzes que representam as três pessoas da Santíssima Trindade, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espirito Santo. Uma outra cruz na sua extremidade, representando a junção das três pessoas da Santíssima Trindade num só Deus. Tal símbolo é conduzido durante aprocissão pela Saraipora, a maior autoridade da festa, ladeado por duas damas, em sinal de respeito a sua simbologia e importância. 
Fonte: AMORIM, Antonia Terezinha dos Santos. Sairé: Uma manifestação do povo Borari. Belém: Editora SEBRAE, 2005.